12 março 2014

A eleição na FERJ e a hipocrisia dos clubes



Hoje e ontem o assunto da imprensa foi a reeleição de Rubens Lopes, que ganhou mais repercussão pelo documento assinado por Flamengo, Vasco e Fluminense, sem o Botafogo. O assunto merece algumas considerações.


Rubens Lopes, de Bangu para o mundo.
Quer dizer, para a FERJ
(Paulo Sérgio/Lance!)

A eleição: há muitos anos foi modificado o sistema de votação, retirando dos clubes grandes o peso decisivo. A imprensa tem batido em votos como os de ligas e até da colônia Juliano Moreira. Isso é bizarro e faz parte da máquina de perpetuação engendrada pela federação. Mas nem seria necessário. Somente com os votos de clubes da série A os pequenos já suplantam os grandes. Foi assim que conseguiram aumentar de 12 para 16 o número de clubes, tornando os jogos mais deficitários e abrindo mão de mais jogos mata-mata em favor de mais jogos contra pequenos.

Rubens Lopes: é um dirigente de federação padrão. Sua meta número 1 é a próxima eleição. A número 2 é a eleição subsequente e assim por diante. O que faz é agradar clubes menores e ligas, arrecadando dinheiro dos grandes clubes, que pagam uma máquina de administração pesada. A relação da Ferj e de seus dirigentes com clubes menores, ligas e árbitros é obscura. Jamais se fez alguma reportagem ou investigação séria. O que leva alguém a lutar com todas as forças para presidir um clube pequeno para o qual sequer torce?

Ferj: como todas as federações, seu poder tem caráter negativo. Quanto mais forte uma federação em relação aos clubes, pior para o futebol. Hoje os clubes precisam de autorização dela até para decidir onde jogar. Entretanto, quando algo dá errado, a federação nunca é responsável por nada. Vejam o caso de CAP e Vasco. Os clubes foram punidos, mesmo que de forma branda. As federações e a CBF foram absolvidas de imediato. E para se ter uma ideia do tamanho da máquina política da Ferj, são nada menos do que 20 vice-presidências.

O movimento de Flamengo, Vasco e Fluminense: pura bravata. nenhum deles tem a menor preocupação com melhoria nenhuma. Por um acaso eles souberam nessa semana que haveria essa eleição? Por que não articularam uma candidatura? Por que não apresentaram propostas nos meses anteriores para pressionar a federação? Um exemplo: reclamam da taxa FERJ de 10% e querem que caia pra 5%. Até 2012, se não me engano, era de 5%. A taxa dobrou e nenhum dos quatro clubes se manifestou. Lembremos: essa taxa vale inclusive para jogos da Libertadores. 


Também é importante olhar com mais calma as possíveis motivações dos três clubes que querem "melhorar o futebol do Rio". 

Flamengo: reportagem do Globoesporte.com diz o seguinte:

Ex-presidente do Conselho Fiscal do Flamengo, Leonardo Ribeiro foi reeleito para a presidência do Conselho Fiscal da Ferj. Ele foi à reunião acompanhado do antigo secretário geral do conselho fiscal do Flamengo, Julio Cesar Barros, e de Gonçalo Veronese, membro da oposição no conselho atual.
Leonardo Ribeiro, também conhecido como Capitão Léo, é oriundo de torcidas organizadas do Flamengo e nome fortíssimo internamente no rubronegro. Basta lembrarmos que ele conseguiu praticamente expulsar da Gávea nada menos do que Zico, o ídolo máximo deles, inclusive fazendo graves acusações a familiares do ex-jogador. Como diz a reportagem, ele ainda domina o Conselho fiscal, órgão que pode devassar e travar uma administração. Patrícia Amorim teve de se dobrar a ele, e a direção atual certamente corta um dobrado por tê-lo como oposição. A súbita briga do Flamengo com a federação que tanto o favorece dentro e fora de campo pode passar muito por questões políticas internas.

Vasco: Roberto Dinamite tem uma difícil eleição no meio do ano, em que se diz que o favorito é o ex-presidente Eurico Miranda. O ex-deputado federal tem grande influência nos clubes menores, é e sempre foi muito ligado à Ferj. Portanto, até mesmo para marcar posição para seus eleitores internos, Roberto, que assinou a chapa de Rubens Lopes, entrou nessa com o Flamengo para tentar se contrapor a Eurico Miranda. Só se engana com Roberto Dinamite quem quer.

Fluminense: Peter Siemsen está em seu quarto ano de mandato, após a recente reeleição. E eis que descobriu ontem que a Ferj não é legal. Um dos vice-presidentes mais influentes e antigos da Ferj é Alcides Antunes, que no processo eleitoral do Fluminense em novembro do ano passado, saiu atirando contra Siemsen. Antunes já conciliou a vice-presidência administrativa da Ferj (assinava os atos administrativos da Ferj, que são documentos muito importantes) com a vice de futebol no Fluminense, o que eticamente é deplorável. Nome de peso no tricolor, rompeu com Siemsen há cerca de quatro meses. Daí podemos entender por que Siemsen "descobriu" que a Ferj é chata, boba e feia. E um detalhe: a mesma reportagem diz que Marcelo Penha, outro nome forte no Fluminense, continua na Comissão Eleitoral da Ferj, e não compareceu para evitar o constrangimento de votar contra Rubinho. Daí se nota a convicção do Fluminense em ser oposição.


E o Botafogo?

Bem, já vimos que não passa de bravata esse movimento dos clubes, que estão mais preocupados com política interna do que em melhorar o futebol carioca. Mas e o Botafogo nessa?

Mesmo sendo uma bravata, o Botafogo, até por uma questão de imagem, deveria estar junto. Assumpção alega não ter sido convidado e dá a entender ter sido por conta de desavenças com Siemsen. Pode ser, mas pode ser também que o alinhamento forte dele com rubinho tenha motivado tal exclusão, se for verdadeira.

O Botafogo, dos melhores aos piores presidentes, de Carlito Rocha a Mauro Ney, jamais se beneficiou de relações escusas com a federação. Ao contrário, o Botafogo sempre foi insistentemente prejudicado pela federação em todas épocas. Assumpção quebrou essa tradição opositora (ou pelo menos de não alinhamento) por uma postura inicialmente de neutralidade e posteriormente de proximidade entre os dirigentes.

Notem que a Ferj não chega a ser próxima do Botafogo, pois o clube não tira nenhuma vantagem dessa relação, e sequer consegue evitar desvantagens. Quem quiser verificar isso, basta ver as tabelas nocivas que o Botafogo enfrenta, o que acontece no TJD-RJ (se você vir o TJD-RJ vai achar o STJD um exemplo de excelência) e a total falta de apoio ao clube em questões políticas, como no fechamento do Engenhão.

Especula-se que esse alinhamento possa ter a ver com o patrocínio da Guaraviton, que teria sido intermediado por Assumpção para a Ferj. Não creio. Isso vem de antes. Em 2009 Assumpção já elogiava Rubens Lopes e Jorge Rabello, sobre quem já escrevemos, inclusive se prestando ao papel de desestabilizar o presidente da Conaf para alavancar uma possível ida de Rabello para tal cargo.

Outro detalhe: Alberto Macedo, nome tradicionalmente ligado a Montenegro no Botafogo, hoje apoia Assumpção. E é um dos 20 vice-presidentes da Ferj. Portanto, uma das razões do apoio de Assumpção à Ferj pode ser o mesmo da "oposição" dos demais: política interna.

A postura de Assumpção envergonha o Botafogo, e só podemos especular os motivos, pois institucionalmente o Botafogo não lucra rigorosamente nada. Por isso, reputamos a postura do presidente como pessoal, e não algo do Botafogo como clube.

As motivações que o levam a tal atitude devem ser cobradas internamente no clube, no Conselho Deliberativo, e cabe a Assumpção responder

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