06 fevereiro 2014

A libertação alvinegra




"Nós também gostamos da Libertadores, Wallyson"
Crédito: Vitor Silva/SSPress (UOL)

Suor. Calor. Palpitação. Abraços. Todos estiveram presentes no Maracanã ontem. Mais do que gols, lances, nós táticos e inversões de falta, ontem o Botafogo foi si mesmo outra vez. Primeiro, durante o dia, o Botafogo apareceu em alguns torcedores tomados pelo inevitável pessimismo alvinegro, já tão corriqueiro em nossas sofridas (e escaldadas) cabeças. Depois, o Botafogo apareceu pelas poucas e discretas camisas alvinegras pelas ruas. Ninguém foi trabalhar de camisa. Ninguém se mostrou ostensivo demais. É verdade, foram mais que o comum, mas poucas. Mas não entendam isso como demérito! De forma alguma o é. Mas não somos os mais populosos. Nunca seremos. Não é parte da alma alvinegra.

Nós não somos uma massa acéfala e risonha. Somos confidentes de um mesmo segredo (para poucos). Irmãos que talvez nunca se cruzariam de outra forma. Melhores amigos (todos no estádio) durante aquela noite que nunca terminou.

Chegando ao estádio, a multidão alvinegra, como há muito tempo eu (infelizmente) não via, não exalava o otimismo do jogo contra o Criciúma. Não havia a certeza iminente de vitória no ar. Havia dúvida, decerto, mas, ainda bem, todos foram lá conferir. Entrei. Gritei e me preparei. Seria uma noite longa.

Na hora do mosaico me senti um monumento, um fenômeno natural. Bastou levantarmos as nossas placas, e o restante do estádio, como se diante das Cataratas do Iguaçu ou das pirâmides do Egito, começou a fulminar-nos com flashes intermináveis. Flashes que, com certeza, ficarão na minha memória tanto quanto o mosaico ficará para quem o viu de longe. Imponente de igual forma. Duas versões e dois momentos inesquecíveis.

O jogo em si começo agitado. O Botafogo parecia afobado em desencantar na tão sonhada Libertadores. Confesso que não sou do tipo muito apegado a táticas e a determinados tipos de análise que pouco acrescentam à essência do jogo. À alma do jogo. Então, para mim, o jogo começou naquela bola vadia que o Jorge Wagner cabeceou. 

E não me venham dizer que foi um “passe” que não foi! Ele cabeceou absolutamente inconscientemente do fato de aquela bola ser “A” bola do jogo. Cabeceou para o alto, talvez até tenha ficado cego pelos holofotes. Aquela bola pairou, olhou o estádio todo, parou por mais alguns minutos e o nosso novo menino Wallyson, que também espiava a bola com vigor e vontades incomuns, encheu o pé. Cheio de confiança. Cheio de vontade. Cheio de amor alvinegro que transbordava o rio Maracanã. Não aquele que conhecemos, mas o rio Maracanã que liga a lágrima da arquibancada ao verde e suntuoso gramado do Maracanã. A prece da criança mais cedo no seu quarto. O beijo no santinho, tapa no ombro do amigo. A mordida nervosa no escudo.

Para mim, amigos, o jogo mudou ali. Como um vendaval que passaria a assoprar todos os nossos jogadores ao ataque. Todas as nossas bolas aos barbantes alheios, todos os desejos lunáticos e infantis rumo ao mais puro delírio e deleite de um torcedor. Aquela bola, facilmente isolável, mas que terminou mansamente nas redes equatorianas, me deu a certeza de que venceríamos o jogo.

E o time nervoso, que já botara duas bolas na trave, que já brigara, que já estava com pouca paciência para a catimba adversária, acalmou. E a torcida, que já preparava uma vaia (mesmo que apenas mental), respirou. E a alma do pequeno alvinegro que existe em cada um de nós voltou a se inflar e crer. Hoje não saímos daqui sem a vitória.

Volta o time do intervalo e com a cabeça mais fria pensamos. E se? 

E tome outro gol de Wallyson (após um belo passe de Lodeiro, que jogou demais). 

E com a cabeça já quente de novo pensamos. E se? 

Um gol nos eliminaria (mesmo sabendo que o Jefferson mal tocou na bola o jogo todo). 

Mais um gol do Wallyson. 

Numa bola que chegou a bater no microfone, como quem quer mais atenção ainda. Mais que 60 mil vozes (o borderô não me engana). Ela queria a América. O mundo. Bateu no microfone e ficou ali, colada na linha. Desprezou a rede que coletava os sonhos de todo alvinegro. 

3x0 e ninguém mais pensava em nenhuma possibilidade de derrota. O jogo estava consumado e Henrique fez o quarto para expulsar ainda mais a “zica” que estava. Tomara que continue. Quando o juiz apitou, diferentemente de TODOS os jogos do Botafogo que eu já fui, não comemoramos o apito final como um gol. Apenas celebramos. Abraçamos os irmãos desconhecidos, melhores amigos por 90 minutos. Cerramos nossos punhos ao alto, abraçamos nossos amigos, saudamos o time, e rumamos para casa. Lindos, livres e liberados da quarta-feira que demorou 3 semanas para passar. Agora, sim, começou a caminhada da Libertadores.

E vamos torcer para que possamos, enfim, nos libertar.

Venha comigo!

Saudações Alvinegras!

Texto de Vinicius Alvarez

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