27 março 2014

"Os números dizem mais" (comentários sobre a reunião do Conselho Deliberativo do Botafogo - 25/3)



Ontem à noite, em General Severiano, o Conselho Deliberativo do Botafogo se reuniu para votação das contas do ano de 2013, benemerências e emerências. Porém, longe da simplicidade da frase introdutória, a reunião teve uma discussão acalorada e votações inesperadas.

"O espetáculo da Democracia"
Vamos, então, aos destaques da noite.

Conselheiros


Houve uma melhora na presença, com 93 conselheiros participando da reunião, cerca da metade do total. Mas temos que destacar o baixo número de pessoas fazendo o uso do microfone para o debate ou exposição de ideias: 10.

Essa situação foi tratada pelos conselheiros Vinícius Assumpção (MCR) e Luiz Felipe (Mais Botafogo). Ambos disseram que é necessário um novo caminho, com mais participação do Conselho e um planejamento ao longo prazo.

Os números da dívida


Enquanto os votos eram calculados, o presidente Maurício Assumpção queixou-se das críticas em relação ao aumento da dívida do Botafogo e citou números, muitos números. Vamos analisá-los:

"Olha a dívida lá no teto!"
Janeiro de 2009 - R$286 milhões
Após a auditoria - R$370 milhões

Um aumento de R$84 milhões ou 29,5%

Hoje, segundo Maurício, a dívida é de R$700 milhões. Isso dá um aumento de R$330 milhões em relação ao valor auditado (R$370 milhões), o que significa um crescimento de 89,2%.

Para a defesa da sua gestão, Maurício afirmou que, se fossem pagar a dívida hoje, à vista, esta seria de R$496 milhões. Entretanto, surge uma dúvida nesse raciocínio:

O valor declarado de R$286 milhões para a dívida (depois, R$370 milhões) era o valor para pagamento à vista?

Pela fala do presidente e números apresentados, não parecia ser este o caso. Sendo assim, a comparação não parece ter sido a correta.

Com isso, a menos que se considere o valor para pagamento à vista dos R$370 milhões (em 2009), a única comparação que pode ser feita é com os R$700 milhões, não com os R$496 milhões.

O Ato do TRT


Ao ser questionado sobre os motivos que levaram o Botafogo sair do Ato Trabalhista do TRT, Maurício Assumpção respondeu que "o ato expirou no fim do ano passado, e nos termos de então não interessava ao Botafogo continuar".

Conversamos com algumas pessoas sobre a saída do Botafogo do Ato e tivemos respostas divergentes da informada pelo presidente do clube.

Pelo que apuramos, houve uma denúncia de um advogado de um ex-jogador do clube em relação às receitas da Cia Botafogo. Com isso, o presidente do TRT excluiu o Botafogo do Ato Trabalhista no meio do ano.

O Botafogo recorreu da exclusão, mas como estava em dezembro e o ato é renovado anualmente, o clube achou melhor desistir do recurso e começar a negociar um novo ato.

Na negociação, o Botafogo reconhecia dívidas trabalhistas até o ano de 2013 e que totalizavam R$90 milhões. O juiz responsável pelo Botafogo fez algumas propostas de pagamento, com o clube oferecendo R$900 mil por mês para quitação da dívida.

Entretanto, o juiz tomou conhecimento da situação da Cia Botafogo e paralisou as negociações. O Botafogo espera retornar em breve.

É bom ressaltar que Vasco e Fluminense continuam no Ato do TRT.

A discussão e a confusão


Após a sua explicação da dívida, Maurício Assumpção preparava-se para deixar o púlpito e retornar ao seu lugar. Entretanto, um conselheiro pediu a palavra e fez um questionamento sobre o Ato do TRT. Após essa pergunta, o benemérito oposicionista Carlos Eduardo Pereira pediu a palavra e questionou o presidente a respeito dos adiantamentos de receitas futuras.

"Até aqui, tudo tranquilo..."
Inicialmente, é justo elogiar a postura do Maurício Assumpção de ir ao Conselho esclarecer aspectos da sua gestão. Porém, a maneira pela qual isso ocorreu não merece elogios. Entendemos que exista uma relação pouco amistosa entre a pessoa do Maurício Assumpção e o benemérito Carlos Eduardo (e, consequentemente, o seu grupo, Mais Botafogo), mas um presidente jamais pode responder de forma debochada e cheio de ironias, ainda mais quando em outro Poder soberano do clube, o Conselho Deliberativo.

Críticas existirão sempre e os resultados da eleição de 2011, quando Maurício enfrentou nas urnas o mesmo Carlos Eduardo, comprovaram de que lado estavam os sócios. Assim, ao dizer que não sabe quanto foi adiantado, que Carlos Eduardo deveria pedir ao membro do Mais Botafogo no Conselho Fiscal que respondesse, ele ignora que aquela pode ser também a dúvida de diversos outros conselheiros e sócios ali presentes.

O mesmo se deu na pergunta final, quando Maurício foi questionado em relação ao número de sócios. Visivelmente irritado, foge da pergunta para só, enfim, falar três mil, mas sem muita convicção.

O que seguiu foram cenas ainda mais lamentáveis, mas não podemos ser levianos e condenar apenas Maurício pela confusão. Conversamos com conselheiros presentes à reunião e houve troca de acusações entre os dois, permeadas de xingamentos. E o ápice teria sido quando Carlos Eduardo chamou para briga Maurício Assumpção, repetindo o acontecido durante as discussões da implantação do novo estatuto do clube, ainda em 2008 - quando o benemérito repetiu o gesto com um conselheiro da situação à época.

Que se respeitem os Poderes do clube, que briguem as ideias e que dialoguem as pessoas.

Votações


As votações do Orçamento de 2013, vices e benemerências constituíam um teste político para a atual administração. Sendo assim, podemos dizer que ela foi aprovada, mas na recuperação (se é que isso existe ainda nas escolas).

"Vazia igual à nossa conta, presidente"
Vamos aos fatos:

1 - O grupo de oposição "Mais Botafogo" elegeu 14 conselheiros. Não foi possível precisar o número de beneméritos que eles possuem nos seus quadros, mas o grupo tem cerca de 20 votos no Conselho.

2 - A votação do Orçamento, assim como as dos vices, são indicações diretas do presidente, muito mais que as benemerências. Explico: os vices estarão ligados à sua administração, os beneméritos continuarão no clube. 

Enfim, uma derrota nessas votações seria uma derrota do Maurício Assumpção, enquanto que as eleições dos beneméritos são vistas muito mais como algo do homenageado.

Isso talvez explique a diferença nos votos dados ao Carlos Calumby para vice (48 x 42) e benemérito (43 x 44).

3 - A votação que aprovou o Orçamento 2013 teve o seguinte placar: 70 a favor, com 23 contrários. Não houve abstenções.

Posto isso, e considerando que o "Mais Botafogo" votou em peso pela rejeição, sobrariam apenas 3 votos para mapear. Número desprezível. Sigamos.

4 - Antes de a reunião começar, eu já tinha a informação que o "Mais Botafogo" (o que era natural) e conselheiros ligados ao benemérito Mantuano trabalhariam contra as indicações do André Silva e Carlos Calumby. Se eu sabia, imagine os conselheiros...

5 - Não temos os números do André Silva para vice, embora os votos a favor e contra estejam na casa dos 40, como as outras votações para vice, pelo que pudemos entender do péssimo áudio.  O que causa estranheza aqui é a diferença nos votos para benemérito: 52 a favor, 35 contra.

Na votação do André, podemos levar em consideração que ele, hoje, é o candidato da situação à sucessão do Maurício.

Assim, quem iria querer ficar mal com ele?

"Agora até que faz sentido"
6 - Dado os números, a oposição teve a ajuda de cerca de outras 20 pessoas nas votações para vices e beneméritos. Uma parte era o grupo ligado ao benemérito Mantuano (ex-vice do Maurício na 1ª gestão, além de ter sido presidente do 1º Conselho Fiscal do Bebeto e renunciado às vésperas da eleição de 2005 para concorrer), a outra certamente de conselheiros "independentes", já que a os números variaram bastante.

Poderíamos colocar na balança desavenças pessoais e questões de ego. E, também, claro!, quem não concordava com as indicações. Mas isso seria para votos "residuais", mas as votações foram muito parecidas.

7 - Entretanto, o principal indicador é: das 3 votações para vice, duas levaram 42 votos contra; outra, 43. Há um padrão aí. E é difícil acreditar em coincidências em política.

Até junho!

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