03 junho 2014

Novo Maracanã, velhas e caras amizades



Um dos assuntos que mais nos chamam a atenção são os borderôs dos jogos no Rio de Janeiro. A extensa lista de itens que sugam dinheiro dos clubes - e a comparação entre vários borderôs - os torna incompreensíveis.

"Seja bem-vindo: você está pagando caro"
(Foto: Cris Dissat - Fim de Jogo)
Nesta semana a ESPN Brasil exibiu uma reportagem intitulada "Maracanã gasta milhões com amigos de governador e cartolas", em que questiona alguns números duvidosos. Vale a pena assistir:


Algumas coisas curiosas.

1) Aluguel de estádio no Campeonato Carioca: clube grande paga aluguel de estádio quando manda jogos contra pequenos, mas quando o mando é dos pequenos, em geral o aluguel é zerado.

Exemplos: Duque de Caxias e Resende tiveram aluguel zero para mandar seus jogos contra o Botafogo em Volta Redonda. Boavista não pagou para nos enfrentar em Saquarema, nem a Cabofriense para nos enfrentar em Macaé. Mas o Botafogo pagou aluguel em todos os jogos, seja no Maracanã, Moça Bonita ou São Januário.

2) Aluguel de grades: esse famigerado aluguel de grades é o mais inacreditável dos itens levantados pela reportagem. A empresa que atua com o consórcio é a mesma que já alugava antes para a Suderj. Nós do Botafogo Sem Medo nunca entendemos esse aluguel e é sempre um item comentado quando analisamos os borderôs. Não há sentido em não adquirir de uma vez esses objetos, a menos que haja outros objetivos por trás desse aluguel. 

As grades de São Januário por alguma razão são mais caras. Lá, dificilmente sai a menos de R$ 6.750,00, enquanto nos demais jogos varia a partir de R$ 3.500,00. Em Moça Bonita, em regra o valor é R$ 5.250,00.

3) "Posso ajudar?": aquela gigantesca equipe de informação do Maracanã, com uma roupa cinza que não os destaca em jogos do Botafogo, é outro custo alto e, se não desnecessário, certamente superdimensionado. Muitas vezes, vários ficam no mesmo lugar, conversando entre si. E é difícil entender a utilidade de alguém ficar se esgoleando num megafone dentro do estádio, "incentivando" o público.

"Posso Ajudar?" e bilheteira em um contêiner: tudo errado(Foto: Cris Dissat - Fim de Jogo)
Por que pagar por isso? Sempre quisemos saber o custo desse "diferencial do novo Maracanã", e a reportagem apresenta um custo de quase R$ 7 milhões somente em parte do ano passado.

4) Taxa de iluminação: o jogo Audax e Botafogo, em Moça Bonita, registrou uma despesa de R$ 3.900,00 de "taxa de iluminação", sendo que os jogos em Moça Bonita são às 16h, mesmo em dias úteis, exatamente por não haver iluminação artificial no estádio. Nos demais jogos em Moça Bonita essa taxa está zerada. 

Nos do Maracanã, incluindo os noturnos da Libertadores, essa taxa é zerada, provavelmente incluída em outra rubrica como "despesa operacional".

5) Credenciamento: existe uma despesa com credenciamento de imprensa em todos os jogos que varia de R$ 2.300,00 a quase R$ 4.000,00. Não sabemos a razão de custo tão alto e recorrente.

6) Confecção de ingressos: nos jogos do Maracanã, a rubrica "confecção de ingressos" é nula. Isso porque o Botafogo tem contrato com a mesma empresa de ingressos do Maracanã, de modo que essa despesa não é jogo a jogo. Quando o Botafogo aceita ser deslocado para outros estádios, está sujeito a outras situações. Em Moça Bonita, os ingressos são da BWA, e o Botafogo paga R$ 5.000,00 ou mais por jogo.

Essa BWA já sugou muito dinheiro dos clubes cariocas. Houve época em que ela cobrava pela confecção dos ingressos em cima do valor de face dos ingressos. Mas qual a diferença de custo para produzir um ingresso que será vendido a R$10,00 para um que será vendido a R$ 80,00? O ingresso é o mesmo, exatamente igual, apenas a bilheteria cobra o valor que quiser. E os clubes pagavam diferença por isso.

A BWA também já cobrou percentual de renda na rubrica "confecção de ingressos". Isso obviamente não faz sentido, mas muitos clubes pegavam empréstimo com essa empresa e pagavam descontando percentual de renda disfarçado de pagamento pelos ingressos. O Vasco certa vez brigou com o Flamengo porque este pegou empréstimo com a BWA e pagava com percentual da renda bruta. Como a renda era dividida, ao tirar da renda bruta o Flamengo estava usando o dinheiro do adversário para pagar seus próprios empréstimos.

À época de Bebeto de Freitas o Botafogo rompeu com a BWA e assinou com outra empresa, no que aos poucos foi sendo seguido por outros clubes.

Para conhecer as respostas do consórcio à ESPN Brasil, veja a reportagem "Consórcio que administra o Maracanã nega 'opções políticas' em contratações; veja as respostas".

Em fevereiro deste ano, o jornal Extra abordou o tema por outro ângulo, a arrecadação da Ferj em comparação com os prejuízos dos clubes, na reportagem "No esvaziado campeonato do Rio, o maior lucro é da Federação: R$ 392 mil".

Se o consórcio limita-se a se esquivar das perguntas com frases padronizadas que nada dizem, a Ferj responde com a habitual arrogância de cartolas que se julgam eternos e inatingíveis.

Algumas respostas da Ferj ao Extra em fevereiro de 2014:

Qual o critério para o valor estipulado pago aos delegados dos jogos?
Prerrogativa privativa a quem compete decidir sobre a matéria e não se afasta dos critérios usados pelas empresas para remunerar seus funcionários e prestadores de serviços, em função da qualificação de cada um, importância do cargo e responsabilidade da função. Certamente o editor do jornal deve ganhar mais do que o repórter: qual o critério? Qual o critério para os valores estipulados pago aos diversos repórteres?

Se a Federação tem um contrato com a Equiloc, porque a utilização de grades para venda de ingressos e acesso de público nos estádios é paga pelos clubes?
A Ferj não tem contrato com a empresa em questão nem com qualquer outra, dentre muitas cujos serviços fazem parte das despesas do estádio ou de uma partida de futebol. As despesas de jogo são contabilizadas em borderô e pagas pelos clubes desde 1933, quando do início do profissionalismo do futebol e tem previsão em regulamentos aprovados pelos clubes (REC e RGC) ou em acordo entre os mesmos.

Algumas respostas do consórcio à ESPN Brasil nesta semana:

5. Por que a concessionária aluga todo jogo elevado número de grades? Não pensa em comprar este equipamento, visto ser necessário em toda partida? 

Está no planejamento da concessionária investir, em longo prazo, não só na aquisição de grades, mas também de diversos outros equipamentos e mobiliários, atualmente alugados. Esta decisão será sempre baseada em estudos de viabilidade econômica. O compromisso do Maracanã em oferecer as condições adequadas para jogadores e torcedores se reflete na ampla aprovação de suas novas estruturas. Segundo resultado de duas pesquisas do Instituto Datafolha, jogadores e treinadores apontaram o Maracanã como o melhor estádio brasileiro, ao lado do Mineirão, enquanto mais de 85% dos torcedores aprovaram a administração da arena.

6. Quem define o número de grades? Qual a participação da FFERJ nessa decisão?
Todas as ações de segurança para os dias de jogos são definidas em conjunto, em reunião com a FERJ, clubes, Maracanã, Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) e demais órgãos de segurança pública.

7. O atual modelo de operação do Maracanã e a escolha dos fornecedores vem trazendo prejuízos à concessionária. Isto é nítido no balanço financeiro publicado. A concessionária pensa em rever este modelo e a escolha destes fornecedores?
A apresentação de perda no primeiro ano de uma concessão pública é comum em projetos de longo prazo e já estava previsto no plano de negócios da concessionária. O prejuízo apresentado no balanço financeiro não decorre do modelo operacional ou do custo dos fornecedores. A concessionária busca incessantemente a melhoria de sua eficiência operacional, com a redução de custos e aumento da qualidade do serviço, haja vista que é a única afetada pelos resultados econômicos de sua operação, já que o custo para os clubes é pré-fixado em contrato. A escolha dos fornecedores é sempre baseada na qualidade do serviço, experiência, preço e reconhecimento da empresa no mercado.

Leiam as reportagens, as respostas, e a cada vez que virem aquelas pessoas do "posso ajudar?" e aquelas grades, lembrem-se de como os dirigentes permitem que dinheiro dos clubes saia pelo ralo.

Leia também: "Os Clubes, a FERJ, a BWA e você" (1º/05/2010)

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